Cuba comemora os 62 anos da revolução socialista, celebrados nesta sexta-feira,1º de janeiro, ecoando os princípios da solidariedade e da resistência popular em nível global. Enquanto muitos países amargaram as consequências mais graves da pandemia do coronavírus ao longo do último ano, a ilha caribenha se tornou um exemplo internacional.
Assim que o vírus chegou ao país, Cuba conseguiu mudar o rumo da pandemia e se diferenciou dos demais países do continente latino-americano. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde Pública de Cuba nesta sexta-feira, 176 pessoas foram contaminadas no país. Até o momento, 146 óbitos foram registrados.
Para alcançar o êxito da preservação da vida e índices muito menores do que os países vizinhos, os profissionais de saúde cubanos trabalharam com a prevenção, isolando os pacientes, acompanhando casos suspeitos e fazendo atendimentos domiciliares.
Com a proliferação da covid-19, a medicina humanizada e solidária característica de Cuba atravessou fronteiras mais uma vez: Mais de 3.700 profissionais de saúde foram enviados a 35 países.
Das 46 brigadas formadas para enfrentar a pandemia, 37 continuam prestando serviços de saúde em 26 nações como Angola, Haiti, Honduras, México, Peru, Qatar e outros.
Segundo o Consulado de Cuba em São Paulo, as brigadas cubanas trataram de mais de 300 mil pessoas e salvaram mais de 9 mil vidas. Dos quase quatro mil profissionais que integraram a iniciativa, 61,2% eram mulheres.
Em reconhecimento à atuação essencial dos cubanos na área da saúde, uma campanha pelo Nobel da Paz 2020 para os profissionais ganhou força ao longo do ano e foi apoiada em todo o mundo.
Criado em setembro de 2005 por Fidel Castro, as brigadas já salvaram milhares de vidas em países assolados por terremotos, furacões e epidemias em diferentes regiões da África, América Latina, Caribe e Ásia.
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Elas atuaram, por exemplo, para atender vítimas de Ebola na África Ocidental em 2014 e 2015. Em reconhecimento ao trabalho dos profissionais, a brigada Henry Reeve recebeu o Prêmio Doutor Lee Jong-Wook 2017 de Saúde Pública, entregue pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ciência soberana
Além do atendimento voluntário, o desenvolvimentos de medicamentos e imunizantes contra o coronavírus também estão entre as conquistas da medicina cubana e de acurada biotecnologia.
No último dia (30), o diretor do Instituto Finlay de Vacinas (IFV), Vicente Vérez Bencomo, declarou que Cuba poderá imunizar toda a população contra o coronavírus com uma vacina própria no primeiro semestre de 2021.
As vacinas desenvolvidas por pesquisadores locais são a Soberana 01 e Soberana 02, que avançaram significativamente nos ensaios clínicos.
O Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia cubano também analisa o desenvolvimento de outros dois potenciais imunizantes, denominados Mambisa e Abdala.
A obtenção e fabricação de vacinas não são novidade para a ilha. O programa nacional de vacinação para toda infância do país conta com 11 vacinas contra 13 doenças, sendo oito delas de fabricação nacional.
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Em maio deste ano, o governo anunciou ainda o uso de dois medicamentos produzidos em território cubano que reduziram a inflamação em pacientes positivos em estado grave.
Uma dessas drogas é o Itolizumab, um anticorpo monoclonal criado no Centro de Imunologia Molecular (CIM) usado no tratamento de linfomas e leucemias. A outra é um peptídeo que estava sendo utilizado em ensaios clínicos em pacientes com artrite reumatoide.
Resistência histórica
Mais de seis décadas após a fuga do ditador Fulgencio Batista e a entrada do Exército Rebelde em Santiago de Cuba, o projeto de nação defendido pelo por Fidel Castro continua sendo atacado em nível internacional.
Cuba é historicamente alvo de duros embargos econômicos promovidos pelos Estados Unidos – ações que foram reforçadas sob a gestão de Donald Trump.
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O republicano limitou as viagens e o envio de remessas de dinheiro ao país caribenho, além de anunciar uma norma que permite processos na Justiça norte-americana contra empresas estrangeiras presentes em Cuba e que administram bens confiscados pela revolução.
Ele também aumentou as sanções contra as exportações de petróleo venezuelano, o que reduz as vendas subsidiadas de combustível a Cuba.
Conforme a previsão da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a projeção é de que o PIB deste ano seja de -8%, resultado do agravamento da crise econômica agravada pela covid.
Com a vitória de Biden há uma expectativa de reaproximação entre Cuba e Estados Unidos, a exemplo da atuação do democrata Barack Obama.
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Ainda que o bloqueio prejudique a população, os ideiais da revolução socialista seguem vivos e se modernizam com ampla participação popular. Em 2019, os cubanos foram às urnas para votar uma nova constituição.
As mudanças aprovadas por mais de 80% dos cubanos incluem o reconhecimento da propriedade privada, a proibição da discriminação contra a população LGBT, estabelece a liberdade de imprensa e limita o mandato presidencial a cinco anos, com direito a uma reeleição.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
Do “Brasildefato“